domingo, 21 de dezembro de 2008

Gomorra




A influência da máfia Camorra na vida e no cotidiano das pessoas que vivem em uma área da periferia de Nápoles é o que esse denso filme do diretor e roteirista Mateo Garrone tem a mostrar. E para isso ele faz uso de muitos personagens, subtramas entrelaçadas, muitas cenas violência, bons atores e uma fotografia que retrata bem o quão deprimente é esse universo.

Sob a proteção da máfia e também por medo dela, as famílias que vivem nessa região criam uma sólida estrutura para o tráfico de drogas e crime organizado. Os jovens vêem nesse negócio a única forma de ganhar dinheiro e poder, e desde muito novos são explorados pela organização. A iniciação dos jovens no crime e o trágico destino que os espera é um dos pontos altos do filme.
O filme não nos poupa de cenas chocantes. Um exemplo é a cena onde vemos crianças dirigindo enormes e pesados caminhões de lixo tóxico como se aquilo fosse uma brincadeira. Por um momento acompanhamos o olhar de um personagem que, até então deslumbrado pelas “ótimas” oportunidades que a máfia lhe oferece, observa aquilo tudo com incredulidade.
A ótima fotografia é essencial para compreensão daquele universo. Os dias nublados e frios, os cenários cinzas com prédio velhos, sujos, os interiores das casas sempre com pouca luz e poucas cores criam um ambiente triste, deprimido e grave. As grades e as portas sempre fechadas retratam o medo daquelas pessoas.
Um recurso muito utilizado no filme é manter apenas o personagem principal em foco. Isso ocorre principalmente nas cenas em que o alfaiate contracena com os chineses. Esses aparecem frequentemente desfocados, ou de costas, ou em movimento. Isso pode representar a insegurança e o desconforto do alfaite por estar comentendo atos que colocam em risco a sua vida.
Os principais personagens que acompanhamos são uma boa amostra do que compõe o mundo do crime. Primeiro, um garoto que vê na máfia a possibilidade de ascensão social, e após se envolver com ela é pressionado a cometer um ato que o faz ver que aquilo não é uma brincadeira. Uma dupla de jovens que querem tomar o poder na região, mas que a imaturidade dos seus atos culminam em um trágico desfecho. Um alfaiate que tem seu talento explorado pela máfia, o homem que paga as famílias protegidas e que vê sua vida ameaçada mas não encontra forma de se livrar do trabalho e um jovem que acompanha a forma desonesta e desumana dos mafiosos fazerem negócios e resolve jogar tudo para o alto.
Gomorra é um filme que por várias vezes me lembrou Cidade de Deus no que diz respeito às relações de poder, a probreza, a violência e o envolvimento de crianças e jovens com o crime.
Por vezes, o filme me pareceu um pouco lento e com cenas desnecesárias. Mas é um filme forte, interessante e com estilo próprio. Percebemos um interesse especial do diretor mais nos personagens do que trama.

Curiosidades: vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 2008 e candidato italiano ao Oscar 2009.

Nota 8/10

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