quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Sete Vidas




Durante quase todo o filme só o que vemos na tela é Ben Thomas (Will Smith), um funcionário da Receita Federal, se esforçando para ajudar pessoas desconhecidas ao mesmo tempo em que abre mão das coisas que possui, da sua alegria e da sua vida. O filme nos deixa meio perdidos a maior parte do tempo por não nos deixar compreender os motivos que o levam a fazer isso, enquanto nos dá dicas, através de alguns flashes de memória e sonhos do protagonista, que o que atormenta Ben é um acidente de carro que provocou a morte de sua mulher. Somente nos últimos minutos toda a história é esclarecida, criando um final intenso e interessante. Mas enquanto isso, somos obrigados a ver uma história que se desenrola a passos muitíssimos lentos, sem nada de especial e com clichês.


Will Smith confirma seu talento em papéis dramáticos, mas o que ele nos oferece dessa vez não supera sua performance em À procura da Felicidade (do italiano Gabriele Muccino, mesmo diretor de Sete Vidas) e nem traz nada de novo. Ele interpreta bem alguém que sente uma dor profunda e uma necessidade de se redimir de alguma coisa. Não há uma química convincente entre Smith a bela atriz Rosário Dawson, com quem contracena quase o tempo todo, e acho que essa é a maior falha do filme, pois ele investe muito nesse relacionamento cansativo e dá pouca muito pouca importância aos outros personagens que compõem as “sete vidas”. Woody Harrelson , por exemplo, está ótimo no papel de um cego e se destaca mesmo nas poucas cenas em que aparece. Merecia uma participação maior.


Resumindo, um filme triste do começo ao fim com uma história criada para ser emocionante e arrancar lágrimas. Mas por mais que eu me esforçasse, não consegui me envolver com essa história.



Título Original: Seven Pounds. País: EUA. Direção: Gabriele Muccino. Roteiro: Grant Nieporte. Elenco: Will Smith, Rosario Dawson, Woody Harrelson, Madison Pettis, Barry Pepper, Sarah Jane Morris, Michael Ealy, Robinne Lee, Bill Smitrovich, Elpidia Carrillo, Dale Raoul, Bojana Novakovic, Gina Hecht, Jack Yang, Judyann Elder


Nota 5/10

domingo, 21 de dezembro de 2008

Gomorra




A influência da máfia Camorra na vida e no cotidiano das pessoas que vivem em uma área da periferia de Nápoles é o que esse denso filme do diretor e roteirista Mateo Garrone tem a mostrar. E para isso ele faz uso de muitos personagens, subtramas entrelaçadas, muitas cenas violência, bons atores e uma fotografia que retrata bem o quão deprimente é esse universo.

Sob a proteção da máfia e também por medo dela, as famílias que vivem nessa região criam uma sólida estrutura para o tráfico de drogas e crime organizado. Os jovens vêem nesse negócio a única forma de ganhar dinheiro e poder, e desde muito novos são explorados pela organização. A iniciação dos jovens no crime e o trágico destino que os espera é um dos pontos altos do filme.
O filme não nos poupa de cenas chocantes. Um exemplo é a cena onde vemos crianças dirigindo enormes e pesados caminhões de lixo tóxico como se aquilo fosse uma brincadeira. Por um momento acompanhamos o olhar de um personagem que, até então deslumbrado pelas “ótimas” oportunidades que a máfia lhe oferece, observa aquilo tudo com incredulidade.
A ótima fotografia é essencial para compreensão daquele universo. Os dias nublados e frios, os cenários cinzas com prédio velhos, sujos, os interiores das casas sempre com pouca luz e poucas cores criam um ambiente triste, deprimido e grave. As grades e as portas sempre fechadas retratam o medo daquelas pessoas.
Um recurso muito utilizado no filme é manter apenas o personagem principal em foco. Isso ocorre principalmente nas cenas em que o alfaiate contracena com os chineses. Esses aparecem frequentemente desfocados, ou de costas, ou em movimento. Isso pode representar a insegurança e o desconforto do alfaite por estar comentendo atos que colocam em risco a sua vida.
Os principais personagens que acompanhamos são uma boa amostra do que compõe o mundo do crime. Primeiro, um garoto que vê na máfia a possibilidade de ascensão social, e após se envolver com ela é pressionado a cometer um ato que o faz ver que aquilo não é uma brincadeira. Uma dupla de jovens que querem tomar o poder na região, mas que a imaturidade dos seus atos culminam em um trágico desfecho. Um alfaiate que tem seu talento explorado pela máfia, o homem que paga as famílias protegidas e que vê sua vida ameaçada mas não encontra forma de se livrar do trabalho e um jovem que acompanha a forma desonesta e desumana dos mafiosos fazerem negócios e resolve jogar tudo para o alto.
Gomorra é um filme que por várias vezes me lembrou Cidade de Deus no que diz respeito às relações de poder, a probreza, a violência e o envolvimento de crianças e jovens com o crime.
Por vezes, o filme me pareceu um pouco lento e com cenas desnecesárias. Mas é um filme forte, interessante e com estilo próprio. Percebemos um interesse especial do diretor mais nos personagens do que trama.

Curiosidades: vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 2008 e candidato italiano ao Oscar 2009.

Nota 8/10

sábado, 20 de dezembro de 2008

Estômago



Dirigido por Marcos Jorge, Estômago conta a história de Raimundo Nonato (personagem vivido por João Miguel), um nordestino que, como muitos outros, desembarca sem dinheiro em uma cidade grande. Seu primeiro trabalho, que ele aceitou em troca de comida e um lugar pra dormir, foi em um botequim, onde descobriu seu talento para a culinária.


A história é muito bem conduzida, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento do personagem principal. O roteiro intercala cenas que contam a trajetória de Raimundo Nonato na cidade e sua trajetória no presídio. Nos dois casos, é principalmente o talento para culinária que o levar a melhorar sua posição social.


Logo no início, o filme já desperta a curiosidade do espectador ao revelar que o protagonista será preso, mas sem revelar o motivo. O Nonato que vemos na penitenciária no início do filme é tão inofensivo quanto aquele que chega à cidade cheio de boa vontade. A transformação do personagem se dá no mesmo ritmo nos dois ambientes.


Como não podia deixar de ser, o filme explora bastante os prazeres da gula. Nas cenas em que Nonato está preparando um prato ou alguém está comendo o que ele fez, a trilha sonora entra com músicas suaves e prazerosas, os ambientes (mesmo quando são no presídio) se tornam mais limpos, bonitos e com cores quentes, e a filmagem fica mais lenta. Há closes nas mãos que preparam o alimento, nos ingredientes, nas panelas e nas bocas que mastigam. Sexo e gula aparecem também fortemente ligados. È com seus quitutes que Nonato conquista a prostituta Íria (Fabiula Nascimento), por quem se apaixona. Em uma das cenas dos dois juntos, ela literalmente janta enquanto eles transam. Essa é uma cena quase idêntica à do filme Maus Hábitos; filme aliás bem interessante, que explora não só os prazeres que a gula proporciona, mas principalmente as angústias que ela pode trazer.


João Miguel, que já se destacou mesmo em papéis secundários (Cinema, Aspirinas e Urubus, O Céu de Suely e Mutum) demonstrou mais uma vez ser um excelente ator. Carismático, convincente e bem preparado, ele cria um personagem interessante e intenso, com o qual nos identificamos imediatamente. Ao mesmo tempo em que vemos na tela um homem simples, humilde, divertido e muito sincero, sabemos que de bobo ele não tem nada, o que se confirma na forte cena em que ele toma o vinho mais precioso do seu patrão quando esse abusa de algo que para Nonato possui muito valor.


O filme contém um plano sequência interessante (haveria ali algum corte escondido?) em que a câmera percorre uma comprida mesa enquanto acompanha Nonato colocando nela os pratos do banquete que preparou. Após chegar ao final da mesa a câmera retorna ao início dela, mostrando, dessa vez, os alimentos já devorados pelos convidados.


Estômago é um filme com momentos de comédia, suspense, romance e até terror, como na cena a la Hannibal Lecter, que na verdade achei um pouco forçada. Retrata hierarquias e relações de poder na sociedade e explora bem o desenvolvimento psicológico do protagonista A forma direta e nada amena do filme tratar o corpo humano é bem condizente com o título. Trata-se de um filme rico e interessante que merece ser visto.


Nota 9/10

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Banheiro do Papa


A proximidade da visita do Papa João Paulo II à Melo, pequena e pobre cidade uruguaia próxima à fronteira com o Brasil, traz esperanças de bons negócios para seus habitantes, que se preparam para armar barraquinhas de venda de comidas e lembranças. Beto (César Trancoso) a princípio não planejava fazer nada, mas impulsionado pelo otimismo dos amigos e pela exagerada cobertura jornalística do evento, decide construir no terreiro de sua casa um banheiro para alugar à multidão de visitantes que era esperada para o discurso do Papa.

O filme evolui de maneira bem regular e tradicional, primeiro mostrando o cotidiano de Beto (seu arriscado trabalho de transportador de mercadorias entre as fronteiras, sua família, seus amigos, sua cidade e seus sonhos), depois sua luta para conseguir o dinheiro pra construiur o banheiro, e no último ato um desfecho que, ainda que previsível, não deixa de ser tenso e tocante.
Acompanhando os esforços de Beto para levar adiante seus planos, o filme encontra espaço para explorar a relação que esse mantém com sua família. Carmen, sua mulher, muito bem interpretada por Virginia Mendez, representa o lado realista da relação. É uma mulher forte e trabalhadora, sem muitas vaidades e de uma certa forma conformada com a vida dura, sonhando apenas com uma sorte melhor para sua filha, Sílvia (Virginia Ruiz), que deseja estudar para ser radialista. Já Beto é sonhador, se acha muito inteligente e busca sempre idéias novas para conseguir melhorar de vida. Embora possuam personalidades muito distintas, o amor está sempre presente e todas as dificuldades só serviram para unir mais essa família.
O Banheiro do Papa é o filme de estréia de César Charlone e Enrique Fernández (que também escreveram o roteiro) na direção de longa-metragens. Eles apostaram em uma bela fotografia, cenários e situações muito realistas e um tema bem interessante.

Nota 7/10

De volta

Ok... após um turbulento final de semestre na faculdade e um curso de crítica e linguagem cinematográfica, estou de volta!
Minhas críticas passarão a ser publicadas também no blog http://www.cinemaemcena.com.br/EntradaFranca/, junto às dos meus colegas do curso de crítica.
Até mais!!