quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Independent Spirit Awards

Enfim, saiu a lista dos indicados ao prêmio do cinema independente. E, felizmente, a maioria dos indicados são bem diferente daqueles mais prováveis para concorrer ao Oscar. Os vencedores serão premiados no dia 23 de fevereiro, apenas um dia antes da premiação do Oscar.

Destaque para I´m not There, de Todd Haynes, que recebeu 4 indicações e já é o vencedor do primeiro Robert Altman Award, prêmio instituído em homenagem ao diretor norte-americano morto em 20 de novembro de 2006.

Ainda não posso torcer por nenhum, pois não assisti a nenhumas das produções aqui citadas... :-(

Indicados Melhor Filme:

I´m not There
O Escafandro e a Borboleta
Juno
O Preço da Coragem
Paranoid park

Indicados Melhor Diretor:

Todd Haynes (I´m not There)
Tamara Jenkins (The Savages)
Jason Reitman (Juno)
Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta)
Gus Van Sant (Paranoid Park)


Indicados Melhor Ator:

Pedro Castaneda (August Evening)
Don Cheadle (Talk to Me)
Philip Seymour Hoffman (The Savages)
Frank Langella (Starting Out in the Evening)
Tony Leung (Lust, Caution)


Indicados Melhor Atriz:

Angelina Jolie (O Poder da Coragem)
Sienna Miller (Entrevista)
Ellen Page (Juno)
Parker Posey (Broken English)
Tang Wei (Lust, Caution)


Indicados Melhor Ator Coadjuvante:

Chiwetel Ejiofor (Talk to Me)
Marcus Carl Franklin (I´m not There)
Kene Holliday (Great World of Sound)
Steve Zahn (O Sobrevivente)
Irfan Khan (Nome de Família)


Indicados Melhor Atriz Coadjuvante:

Cate Blanchett (I´m not there)
Anna Kendrick (Rocket Science)
Jennifer Jason Leigh (Margot at the Wedding)
Tamara Podemski (Four Sheets to the wind)
Marisa Tomei (Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto)


Indicados Melhor Filme Estrangeiro:

4 meses, 3 semanas e 2 dias (Romênia)
Lady Chatterley (França)
Once (Irlanda)
The Band´s Visit (Israel)
Persépolis (França)

domingo, 25 de novembro de 2007

Mutum


Baseado em um romance de Guimarães Rosa, Mutum retrata com muita fidelidade o cotidiano da vida pobre no sertão. É notável o capricho da estreante diretora Sandra Kogut nos detalhes dos cenários e no andamento do filme, que imita o ritmo daquela vida rotineira, lenta e sofrida.

A história é bastante simples, e não é novidade alguma para nós brasileiros a pobreza em que vivem as famílias no sertão, muitas vezes isoladas em seus ranchos. Sabemos sobre o árduo e mal recompensado trabalho na roça, a exploração do trabalho infantil, a violência doméstica, as más condições de alimentação, higiene e saúde, etc. Mas este filme vai muito além disso, porque ele é carregado de emoção.

O personagem principal do filme, Tiago, é um menino extremente sensível, e como toda criança, tem seus sonhos e medos. Tiago não enxerga muito bem com os olhos, mas percebe como ninguém a carência presente em cada pessoa com quem convive. Seu sentimentalismo e sua bondade toca a todos, tornado-o especial.

Lembro-me que quando li esta história Guimarães Rosa, há muitos anos, o trecho que mais me comoveu foi aquele em que Miguilim experimenta uns óculos e passa a enxergar com nitidez muitas coisas que ele não conseguia ver, e como ele não sabia da sua deficiência, acreditava que o mundo era daquele jeito mesmo. Assistindo ao filme, a emoção foi a mesma, trata-se de uma cena memorável e que traz seu simbolismo. Depois dessa experiência, Tiago decide deixar o lugar onde vive para ver mais coisas e ir além.

Curiosidade: todas as crianças do filme são atores não profissionais, experiência que também já foi bem sucedida em outros filmes, como Central do Brasil e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias.


Nota 8


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Culpa é do Fidel!


Excelente história que se passa na década de 70, quando a ameaça comunista estava fortemente presente na europa e américa latina.

O interessante do filme é que ele mostra a visão de uma criança de 9 anos, Anna (Nina Kervel-Bey), que, convivendo com pais comunistas, estudando em colégio de freiras e sendo influenciada por outros familiares que condenam o comunismo, fica completamente confusa, sem saber de que lado ficar.

É perfeitamente compreensível que a criança coloque a culpa no Fidel. Afinal, ela tinha uma vida confortável em Paris, morando em uma casa com jardim, estudando em colégio de freiras, fazendo aulas de catecismo e, principalmente, tendo a atenção constante dos pais. De uma hora para outra seus pais viajam para o Chile para ajudar na campanha de Salvador Allende, deixando-a com a empregada (uma refugiada cubana). Quando seus pais voltam, eles se mudam para um apartamento menor, demitem a empregada cubana, impedem que ela assista às aulas de catecismo e a casa passa a ser frequentada por vários ativistas “barbudos”.

Na medida do possível, os pais de Anna tentam fazê-la compreender a importância do trabalho em que eles estão empenhados. O que eles não entendem é que Anna é uma menina precoce (onde Nina Kervel-Bey se revela uma ótima atriz), e que as meias explicações que eles dão a deixam confusa e não a satisfaz. Isso agrava a situação, fazendo-a a princípio, gostar menos dos comunistas. Mas com o tempo, e graças as sua própria inteligência e persistência, ela acaba por compreender que trata-se de uma forma diferente de viver, mais racional e mais justa. Mesmo com esse amadurecimento, Anna ainda encontra dificuldade de se posicionar no mundo, como mostra a última cena do filme.

Em meio a esse ambiente, o filme também contém cenas divertidas, que retratam exatamente uma visão infantil da situação e tornam o filme mais leve. Anna tem medo das novas amigas da mãe, que se vestem como ciganas, confunde conceitos como solidariedade e maioria, provoca os barbudos (comunistas) tentando fazê-los entender que o bom é comprar, vender, ter lucro e economizar, etc.

O filme da diretora Julie Gavras acerta no ritmo, na dose de humor, na ambientação, no figurino, na temática, e principalmente na atriz mirim.

Nota 10!

sábado, 3 de novembro de 2007

O Passado


Divórcio realmente nunca é fácil, mesmo quando parece ser de comum acordo, ou pelo menos quando a pessoa que é deixada aceita o fato de maneira amigável, que é o caso mostrado por este filme de Hector Babenco.


Rímini, interpretado por Gael García Bernal, se separa da esposa, com quem viveu 12 anos, e com quem começou a namorar ainda na adolescência. Assim que se separa de Sofia (Analía Couceyro), ele começa a evitá-la, enquanto ela sente grande dificuldade de desvincular sua vida da dele. O ciúme de Sofia aumenta à medida que Rímini começa a namorar outras mulheres, e então ela passa a criar situações embaraçosas para seu ex-marido, sempre prejudicando suas novas relações.

O Filme começa focando bem o momento da separação do casal, onde eles têm que fazer a divisão de tudo aquilo que compraram juntos, obrigando-os a relembrar momentos de intimidade. Sobre este momento cabe uma discussão sobre as diferenças entre as atitudes masculinas e femininas na relação amorosa. Enquanto Sofia insiste para que Rímini a ajude a decidir com quem fica cada coisa, principalmente as fotos, ele se mostra disposto a abrir mão de quase tudo, demonstrando que dá muito menos valor do que ela ao passado que tiveram juntos.

O filme vai muito bem até atingir seu auge, quando sofia comete a maior de suas loucuras, que leva Rímini a uma profunda depressão. A partir daí o ritmo do filme se torna lento e perde o foco da questão do divórcio, desenvolvendo muito mais o personagem de Gael, enquanto que Sofia parece que se sequer trocou de roupa. Ela aparece já na última parte do filme, com um plano para reconquistá-lo.

Algumas cenas do filme me pareceram bastante forçadas, como a da modelo na rua vestida apenas com lingerie e esbravejando com o namorado pelo telefone, e a cena do atropelamento da mesma, já que isso não foi posteriormente explorado. Por outro lado, o filme contém muitas cenas de sexo envolvendo Rímini, que acho bem apropriadas, já que claramente o filme enfatiza a visão masculina. Prova disso é que o homem é tratado como vítima e a mulher (ou as mulheres) como bruxa.

O filme é bom, mas a última parte ficou realmente prejudicada, deixando a desejar.


Nota 7

Time - O Amor Contra a Passagem do Tempo

Este é mais um ótimo filme do diretor Kim Ki-Duk, que já dirigiu Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavra e Casa Vazia. Assim como seus outros filmes, Time também é rico em elementos e de complexa reflexão.

Neste filme, uma jovem acredita que seu relacionamento com o namorado está abalado e resolve transformar todo seu corpo com cirurgias plásticas, buscando se tornar uma mulher diferente e mais atrativa para reconquistá-lo.

Logo no início do filme, aparecem cenas reais de cirugias plásticas, que mais parecem filme de terror, de tão agressivas que são para o corpo humano. Embora chocantes, as cenas não fazem See-hee desitir da cirurgia que levará seis meses para mostrar resultado. Essa é uma realidade cada vez mais comum no mundo todo, onde milhares de homens e mulheres se submetem a cirugias, que muitas vezes são arriscadas, apenas para melhorar sua aparência.

O diretor trabalha fortemente a questão da identidade. Imagino como seria olhar no espelho e ver um outro rosto diferente do que estou acostumado. Isso implicaria numa mudança de atitude? Talvez... assim como ocorre quando nos vestimos para uma ocasião formal e informal. São situações em que agimos de maneiras diferente. Mas e quanto ao caráter e a personalidade? Mudar a aparência pode significar melhoria de auto-estima, mas não vai corrigir os defeitos nem alterar nossas qualidades.

O filme em questão vai além disso, já que a cirurgia foi feita para reconquistar o amor de um homem que gostava dela da maneira como ela era, com seus defeitos e qualidades. Ao perceber isso, a jovem See-hee começa a sentir ciúmes da mulher que era antes. Neste ponto do filme, o diretor brinca de maneira brilhante com uma máscara, e dá início a um jogo de busca ao verdadeiro, quando o namorado de See-hee também resolve fazer uma cirurgia. Ela beira a loucura tentando encontrar o novo homem no qual seu namorado se transformou, e aí fica claro que não importa a aparência, o que ela procura é simplesmente uma mão que encaixe perfeitamente na dela...

O filme apresenta um brilhante trabalho artístico, o que já é uma marca dos filmes coreanos, e, ao contrário dos outros já citados filmes de Kim Ki-Duk, este é repleto de diálogos.

Nota 10!