terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Império dos Sonhos


Este é o mais recente filme do aclamado diretor David Lynch, e talvez o mais surreal de todos. É repleto de elementos simbólicos, closes, suspense, cenas artísticas, fantasias e delírios.

A principal personagem é Nikki Grace (Laura Dern), que interpreta uma atriz que consegue um importante papel em um filme que pode revitalizar sua carreira. Logo no início das filmagens ela é informada de que o filme na verdade é uma refilmagem, mas que o original não chegou a ser terminado porque os protagonistas foram assassinados, e que a lenda diz que o roteiro é amaldiçoado. Nikki , que já possui uma vida pessoal misteriosa e artomentada, passa a misturar sonhos, personagens e vida real entrando num pesadelo que atinge profundamente suas angústias, medos e ilusões, principalmente em relação à sua perturbada vida amorosa.

No início parecia um filme bem promissor, mas depois de algum tempo que estamos nessa “viagem” de Lynch, o filme se torna cansativo, ainda mais porque possui 3 horas de duração. Interpretar essa história é tarefa muito difícil. David Lynch é originário das artes plásticas, e experimentou nesse trabalho novas técnicas de filmagens, que influenciam fortemente na arte visual apresentada. Em várias cenas, os personagens aparecem inicialmente sem nitidez, e esta vai se definindo ao longo da cena. Cada ambiente filmado possui uma fotografia bem diferenciada, alguns sombrios, outros frios, outros com cores quentes. São várias as personagens, e a maioria muito misteriosa. O filme é bastante complexo em todos os aspectos.

Laura Dern apresenta uma atuação marcante, criando uma personagem forte em alguns momentos, frágil em outros e assustada na maioria, já que ela vive um tormento em busca de algumas respostas. Marcante também é a trilha musical do filme, que é bastante diversificada e de muito bom gosto.

Este filme dividiu a opinião da crítica. Há quem ame e quem odeie. O público em geral é bem possível que vá odiar, pois o filme é complexo e inexplicável, é uma louca viagem fantasiosa criada por Lynch. Não vou dizer que o odiei, pois reconheço várias qualidades nesta obra, mas realmente é um filme longo, difícil e bastante cansativo de se ver.
Nota 4/10

Conduta de Risco


Este filme de Tony Gilroy, com George Clooney no papel principal, trata de temas como ética e moral, não só no âmbito profissional, mas também relacionados à amizade e família. Na trama, o advogado Michael Clayton é viciado em jogo e já perdeu com isso muito dinheiro, além da confiança de pessoas próximas. Em determinado momento ele se vê dividido entre o dinheiro que poderá saldar suas dívidas e seu silêncio a respeito de um processo que poderá, de certa forma, prejudicar a empresa para a qual trabalha.

Acho que essa breve descrição introdutória já mostra que o roteiro não é muito original. E de fato, o filme não me surpreendeu. O filme é tecnicamente bem feito, apresenta uma fotografia adequada com o momento nebuloso do personagem principal e a própria trama é bem amarrada, mas realmente nada inovador. O desfecho, principalmente, é bem parecido com o de outros milhares de filmes de conspiração, chega a ser infantil.

George Clooney apresenta uma atuação muito boa, mas não marcante a ponto de render-lhe indicações ao Globo de Ouro, e, possivelmente, ao Oscar. A performance de Tom Wilkinson (Arthur Edens) é a que eu considero a melhor deste filme.

Trata-se, com certeza, de um bom filme, vale a pena conferi-lo no cinema. Apenas não espere algo grandiosíssimo.

Nota 7/10

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Jogo de Cena


Como o próprio nome diz, esse documentário de Eduardo Coutinho cria um jogo muito interessante mesclando depoimentos verdadeiros com interpretações. Para isso, o diretor colocou um anúncio num jornal procurando mulheres que quisessem contar alguma história de sua vida pra um filme. Dezoito foram selecionadas e entrevistadas. Alguns meses depois, as atrizes receberam uma cópia em dvd das entrevistas e se prepararam para a interpretação, sem regras pré-estabelecidas.

Coutinho faz uma mistura dessas imagens. Em alguns casos não sabemos se a entrevista é verdadeira ou se está sendo interpretada (note que o próprio diretor, que é o entrevistador, também está interpretando). Certas interpretações ficam tão próximas do depoimento real que o diretor mescla as duas entrevistas, sem com isso comprometer a continuidade da história. Outros casos já são bem mais complicados, deixando a atriz em uma situação difícil, e neste ponto há uma interrupção na cena para a atriz externar suas dificuldades. Complicando um pouco o jogo, Eduardo Coutinho pediu que as atrizes inserissem algo de sua experiência pessoal às entrevistas que interpretam.

O cenário é bastante simples: uma cadeira em um palco de teatro. As entrevistadas estão o tempo todo em close na tela, ficando bem próximas ao espectador. Todas as entrevistadas são mulheres que contam experiências de vida ligadas ao preconceito, amor, casamento, relações familiares e, principalmente, maternidade. Os depoimentos, verdadeiros ou não, são muito tocantes. Afinal, porque tanta preocupação em saber quem é a verdadeira dona da história? Na vida real também não sabemos quando alguém está mentindo ou não…

Genial, não? Este é um documentário sobre o próprio cinema que expõe na prática os limites imprecisos entre a ficção e a realidade. Simples, inteligente e comovente.

Nota 10!

Indicações ao Globo de Ouro

Desejo e Reparação já é destaque no Globo de Ouro. Recebeu sete indicações!

A premiação será dia 13 de janeiro em los Angeles.



Indicados a Melhor Filme Dramático:

O Gangster
Eastern Promises
The Great Debaters
Conduta de Risco
Onde os Fracos não têm Vez
There Will Be Blood

Indicados a Melhor Filme de Comédias e Musicais:

Across the Universe
Charlie Wilson´s War
Hairspray – Em Busca da Fama
Juno
Sweeney Todd

Indicados a Melhor Diretor:

Tim Burton - "Sweeney Todd"
Joel e Ethan Coen - "Onde os fracos não têm vez"
Julian Schnabel - "O escafandro e a borboleta"
Ridley Scott - "O gângster"
Joe Wright - "Desejo e reparação"

Indicadas a Melhor Atriz de Filme Dramático:

Cate Blanchett
Julie Christie
Jodie Foster
Angelina Jolie
Keira Knightley

Indicadas a Melhor Atriz de Musicais e Comédias:

Amy Adams
Nikki Blonsky
Helena Boham Carter
Marion Cotillard
Ellen Page

Indicados a Melhor Ator de Filme Dramático:

George Clooney
Daniel Day-Lewis
James McAvoy
Viggo Mortensen
Denzel Washington

Indicados a Melhor Ator de Musicais e Comédias:

Johnny Depp
Tom Hanks
Ryan Gosling
Phillip Seymour Hoffman
John C. Reilly

Indicados a Melhor Filme de Língua Estrangeira:

4 meses, 3 semanas and 2 dias - Romênia
O escafandro e a borboleta - Fraça
O caçador de pipas - EUA
Lust, caution - Taiwan
Persépolis - França

sábado, 8 de dezembro de 2007

National Board of Review

Esse grupo de críticos já escolheu seus favoritos do ano. Já podem considerar essa premiação uma prévia do que vem por aí no Globo de Ouro e Oscar.

Filme: “Onde os fracos não têm vez”, dos irmãos Coen
Diretor: Tim Burton, por “Sweeney Todd”
Ator: George Clooney, por “Conduta de risco”
Atriz: Julie Christie, por “Longe dela”
Ator coadjuvante: Casey Affleck, por “O assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford”
Atriz coadjuvante: Amy Ryan, por “Medo da verdade”
Filme estrangeiro: “O Escafandro e a borboleta”, de Julian Schnabel
Documentário: “Body of war”
Animação: “Ratatouille”
Elenco: “Onde os fracos não têm vez”
Ator revelação: Emile Hirsch, por “Na natureza selvagem”
Atriz revelação: Ellen Page, por “Juno”
Diretor revelação: Ben Affleck, por “Medo da verdade”
Roteiro original: “Juno” e “Lars and the Real Girl”
Roteiro adaptado: “Onde os fracos não têm vez”

Ratatoullie

Este, que eu considero um dos melhores filmes do ano, está sendo indicado a 13 categorias no International Animated Film Society.
:-)

Mais detalhes: http://www.cinemaemcena.com.br/Premiacao_Detalhe.aspx?ID_PREMIO=15&ID_PREMIACAO=925

Filmes em DVD - Novembro

Abaixo os comentários de alguns filmes que assisti em DVD no mês de novembro.
Letra e Música

Essa é realmente uma das piores comédias românticas a que eu assisti nos últimos anos. Filme fraquíssimo, repleto de clichês e com raríssimas cenas em que é possível esboçar um sorriso. O clip dos anos 80 com Hugh Grant rebolando (coisa que eu nunca havia conseguido imaginar) é o que há de melhorzinho. E será que não tinha uma atriz melhor que Drew Barrymore para contracenar com ele? Aposto que sim, aliás acho difícil terem feito uma escolha pior. Mesmo Hugh Grant dessa vez me decepcionou, e mesmo assim, somente em homenagem a ele, eu consegui chegar até o péssimo final da história.

Nota 3

Possuídos

Este filme me surpeendeu. Pelo título e pela sinopse, eu esperava um filme de terror cheio de insetos carnívoros e nojentos. Nada disso. Trata-se de um suspense inteligente e muito interessante. Um homem misterioso se hospeda na casa de uma jovem (muito bem interpretada por Ashley Judd) que vive em uma pequena cidade americana, ambiente ideal para suas ambições.
Ele, paranóico, ela, emocionalmente fragilizada. Potencializados pelo uso de drogas, os dois vão longe em suas fantasias paranóicas. Em momento algum o filme é previsível (até metade do filme eu ainda estava esperando os insetos aparecerem), criando uma tensão constante (assim como a dos personagens) e nos prendendo à história.

Nota 8

Invasão de Domicílio

Filme bem morninho que dicute as relações de um casamento desgastado pela rotina. O distanciamento do casal favorece o envolvimento do marido com outra mulher. A melhor atuação é da atriz Julliet Binoche, que consegue em determinada cena representar muito bem sentimentos de vergonha, pudor e constrangimento. Fora isso, nada demais.

Nota 6


Amantes Constantes

São quase 3 horas de pura chatice. Típico filme de diretor repleto de cenas artísticas (belíssimas, por sinal), mas que só é interessante para ele e seus amigos. Tem que ser muito mestre pra conseguir um filme bom baseado nesses moldes, o que o diretor Philippe Garrel não alcançou nesta obra. Trata-se do cotidiano de alguns jovens franceses no ano de 1968, época de grandes manifestações sociais e políticas na França. Os personagens são entediantes e as cenas são longas e repetitivas.
Ok, a fotografia é muito boa, mas isso não faz um filme.

Nota 3

domingo, 2 de dezembro de 2007

No Vale das Sombras



Este filme é um verdadeiro retrato de desumanização de jovens americanos durante a guerra no Iraque. A trama se desenrola a partir do momento que Hank Deerfield (Tommy Lee Jones), ex-militar, começa a procurar seu jovem filho, que não lhe dá notícias desde que voltou do Iraque. Em pouco tempo descobre que ele foi brutalmente assassinado, e inicia a investigação do crime.

A partir daí o que se vê é a dor de um pai, que além de ter filho morto, começa a descobrir duras verdades a respeito do comportamento do filho durante a guerra, e isso inclui uso de drogas e tortura de prisioneiros. Descobre ainda que ele não é o único, que outros jovens que estiveram nessa guerra possuem comportamento agressivo e voltam agindo como se ainda estivessem em guerra, sem limites para as suas ações.

Todos os atores estão muito bem. Tommy Lee Jones, como ex-militar, é mais contido em sua emoção, porém não deixa de transparecer a dor que é perder o filho. Susan Sarandon, ao contrário, é toda emoção em sua pequena participação. Charlize Theron, em um personagem totalmente desprovido de sensualidade, se sai bem como a policial durona. Seu personagem cresce num o ambiente burocrático que envolve a disputa entre a polícia militar e a civil para assumir a investigação do crime. Entretanto, isso é muito parecido com o que já vimos em vários outros filmes policiais.

Preenchendo com silêncios e imagens fortes momentos de dor, tristeza e revolta, o filme funciona muito bem como crítica Estados Unidos, pois não cria aquela velha versão “morrer pela pátria”. Pelo contrário, pede socorro para acabar com essa guerra que já matou milhares de soldados americano e iraquianos inocentes.

Nota 8