sábado, 22 de março de 2008

Não Estou Lá


Todd Haynes não usou apenas um ator para interpretar Bob Dylan na telona e nem deu apenas um nome ao seu personagem. São seis atores, de várias idades, raças e até sexo, que ele usou para compor um personagem que refletisse a complexidade e diversidade de um dos ícones da música no mundo.

Mais do que fatos ocorridos na vida de Bob Dylan, o filme busca retratar os sentimentos do cantor, seus pensamentos e emoções. E tudo isso, de forma absolutamente bela. Bela nos diálogos poéticos, nas interpretações marcantes dos atores e no trabalho artístico, sem contar com as maravilhosas canções de Dylan que nos envolve durante as duas horas da sessão. Isso é Arte.
Essa é uma cinebiografia completamente diferente de qualquer outra que já vi. A própria estrutura do filme é plural. São vários atores e vários nomes para o mesmo personagem, algumas cenas em preto-e-branco e outras não, cenários completamente distintos. As fases da vida do cantor não são retratadas de forma linear e não seguem um padrão. Em determinados momentos, Dylan é um menino sonhador que viaja em um trem, em outros, ele é um velho que mora uma pequena cidade condenada ao desaparecimento, em outros ele está contando sua história a alguém, e por aí vai. Mas em momento algum temos dúvida de que todos são um só.

Algumas cenas do longa são como fragmentos de um documentário. Mas mesmo as pessoas que dão depoimentos, contando fatos da vida do artista, são atores. As fotos que mostram para ilustrar os casos contados não são de Bob Dylan, mas do ator que o interpreta. Muito interessante.

Todos os atores, cada um à sua maneira, fazem muito bem o papel de Bob Dylan, deixando transparecer a liberdade, criatividade e força do cantor. O já falecido Heath Ledger faz mais um ótimo trabalho, e Cate Blanchett, como já disseram por aí, interpreta Dylan melhor do que ele mesmo. Mas fiquei tocada mesmo foi com a sensibilidade e competência do jovem Marcus Carl Franklin.

Enfim, um filme maravilhoso, inteligente, inusitado, repleto de boas de surpresas e extremamente agradável de assistir.

Nota 9

Em DVD

O Fino do Trash

Planeta Terror é um longa trash produzido por Robert Rodriguez e Quentim Tarantino. O filme é repleto de referências aos clássicos filmes trash das décadas de 70 e 80, a começar pela própria imagem, que apresenta aqueles “chuviscos”, dando a impressão de filme antigo e de baixo orçamento. Não faltam zumbis devoradores de cérebros, humor negro, e personagens completamente loucos. O próprio Tarantino interpreta um deles. Mas destaque mesmo é a perna-metralhadora da dançarina Cherry.

Esse longa faz parte do projeto Grindhouse, que inclui outro filme: À Prova de Morte, dirigido por Tarantino, e que ainda não estreou por aqui.

Quem gosta desse gênero, vai delirar com Planeta Terror. Nota 8.

Filme ou Novela?

Baseado no livro homônimo de Eça de Queiroz, Daniel Filho nos apresenta O Primo Basílio, filme que conta a história de uma esposa infiel que tem seu relacionamento extra-conjugal descoberto pela empregada. Essa, de posse do segredo da patroa, começa a chantageá-la até levá-la à loucura. História interessante, mas que assume um tom novelístico (o que eu já esperava, considerando a experiência do diretor em televisão), explorando pouco os personagens e o potencial dramático do texto. Nota 6.

sábado, 8 de março de 2008

Filmes em DVD assistidos em Fevereiro

Garçonete
Simplesmente adorável essa comédia romântica. É um mergulho no mundo feminino, com diálogos tão possíveis e bem realizados, que torna fácil se ver em alguma das situações apresentadas, ou mesmo em várias. Combinando drama, comédia e romance na medida certa, o filme se aproxima muito do cotidiano. Sem clichês e com uma atuação muito natural da atriz Keri Russel, esse filme superou minhas expectativas. Nota 10!

O Vigia
Drama morno sobre um jovem que provoca acidentalmente a morte de dois amigos, e passa a lidar com problemas psicológicos decorrentes da culpa e dos danos físicos que o acidente provocou. Tentando levar uma vida normal, acaba se envolvendo com um grupo que planeja um assalto ao banco onde trabalha. Personagens estereotipados e diálogos chatos e pretensiosos. Suspense para adolescente. Nota 5/10


1408
Era para ser um filme de terror? Me lembrou Jumanji, aquele filme infantil com Robin Williams e Kirsten Dunst, e que é bem melhor do que esse 1408. Dentro de um quarto amaldiçoado de um hotel, fulano, um escritor de livros sobre lugares mal assombrados, é atormentado por situações ridículas que o próprio quarto cria, por exemplo: o rádio liga sozinho, a TV mostra cenas da vida pessoal do personagem, a temperatura abaixa, aparecem uns fantasmas de pessoas que morreram no quarto, a parede trinca, sua filha morta reaparece, etc. Filminho fraquinho, tadinho... Nota 4/10

Baixio das Bestas
Esse longa de Cláudio Assis nos apresenta sem dó uma realidade de descaso da sociedade com situações desumanas, mas que se tornam cada vez mais banalizadas, como a prostituição infantil e a vida sem limites de playboys que não se importam com ninguém. O filme apresenta um bom conteúdo, boa fotografia, cenas fortes e personagens interessantes, mas a história poderia ter sido mais bem explorada e mais conectada com as subtramas. Nota 7/10

O invisível

Suspense fraco com adolescentes idiotas. Sem graça e sem a menor originalidade. Péssimos atores. Só de lembrar eu começo a rir da cena em que um passarinho morre. Era pra ser uma cena trágica e reveladora, mas o diretor a transformou em uma passagem ridícula.

Nota 3/10

O Despertar de Uma Paixão

Recém casados e quase estranhos um para o outro, Walter e Kitty se mudam para a China. Ele um marido apaixonado, ela uma esposa infiel. Em meio a uma epidemia de cólera, o casal tem a chance de amadurecer e se conhecer de verdade. O fato de se passar na China é o que torna esse filme mais interessante. Ok, a história não é ruim, mas tudo no filme é previsível. As atuações são boas, o roteiro é consistente, e só. Bom filme para assistir em casa, esparramada no sofá num dia de muita preguiça. Nota 8/10.

Transylvania

Parece que esse filme foi concebido apenas para exaltar a cultura romena (especialmente a música), suas paisagens e a estranha beleza da atriz Asia Argento. Foi muito bem até sua metade. Depois tornou-se repetitivo e cansativo. Nota 6/10


domingo, 2 de março de 2008

Jogos do Poder

Charlie Wilson (Tom Hanks) é um congressista americano no período da Guerra Fria. Após conhecer a miserável situação dos afegãos que vivem na fronteira entre Paquistão e Afeganistão e que lutam com ampla desvantagem contra o comunismo soviético, Charlie passa a dedicar seu trabalho a arrecadar fundos do governo norte-americano para armar os afegãos.

Charlie Wilson até então era um político sem expressão, mas bem relacionado. Com uma vida boa, regada de mordomias, bebidas e lindas mulheres, Charlie concentrava seus esforços em campanhas de reeleição para manter-se no cargo, o que fazia com sucesso. Representa bem a postura americana durante a Guerra Fria. Enquanto milhares de pessoas (fora dos EUA, é claro...) morriam massacradas pelo exército soviético, os Estados Unidos apenas mantinha a guerra fria, fornecendo uma ajuda mínima para esses países que pagavam com a vida de seus cidadãos o preço da guerra entre comunistas e capitalistas.

Primeiramente é a rica, elegante e liberal Joanne Herring (Julia Roberts), uma socialite empenhada na causa Afegã, que faz Charles conhecer a situação real do Afeganistão. Sem entender muito bem a posição do governo americano quanto a essa questão, Charlie recebe o apoio do agente da CIA Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman). Este é outro que o pressiona a abraçar a causa. Daí em diante, o que vemos é o amadurecimento político do congressista, que, manipulando muito bem seus contatos americanos e estrangeiros, parte de uma verba inicial do governo de cinco milhões de dólares e consegue chegar à quantia de um bilhão de dólares para investir em armas para afegãos e paquistãos.

O filme funciona bem como crítica à ação dos Estados Unidos durante e após a guerra, quando resiste em ajudar a reconstruir os países que lutaram contra os russos. Por outro lado, a história não é bem conduzida.

Boa parte do filme é concentrada na construção do personagem de Tom Hanks, mas o resultado não é convincente. Apesar de sua luta por uma boa causa, o personagem não consegue comover, de forma que soa bastante falsa a cena em que ele recebe a homenagem. Aliás, essa se torna uma típica cena para exaltar um herói americano, com os outros personagens aplaudindo emocionados ao grande salvador do mundo.

As cenas no acampamento de refugiados afegãos foram muito pobres e mal feitas. Muito difícil de acreditar no que estava sendo mostrado, parecia tudo cenário mesmo e com atores de quinta. As cenas que mostram afegãos acertando helicópteros russos então, nem se fala...

Apesar da boa e relevante trama política, o filme deixa a desejar em aspectos técnicos.

Nota 7/10.